segunda-feira, 27 de março de 2017

O tempo.

O tempo é a carne, é a comida
É a vida presente vendida
Pelo amanhã ausente, adiado
Mal medido,
Perdido na fé do vazio estimado
Em tudo que foi prometido
No nada que foi achado.

O tempo é sangue que jorra quente
Do suor que corre frio
Que a máquina de comer gente
Tá sempre de bucho vazio.

O tempo é ar que não entra, só sai
É a gente que aguenta e não cai
É frio, é calor, não sente, só vai!

O tempo é sons, tiques, tambores
Bozinas, apitos aflitos, esquinas,
Senhores chiques, moleques bons e vento.

O tempo é luz, é a aurora, el ocaso, o atraso no parto diário, olha a hora!
Cafés da manhã puros e crus.

O tempo é o beijo negado antes de cogitado
O abraço posto de lado pelo passo ao chicote apertado
O fenômeno ignorado
O fogo abafado com a folha de papel tracejado

O tempo é a cera que o fogo consome
Da vela que é o homem
É a areia que a terra puxa pra baixo
É a teia que me tece suspenso
É o chão onde me esborracho

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Neofoquismo

ESSÊNCIA

"É preciso criar dois, três, vários Vietnãs" diria o Che. O foquismo consistia em focos revolucionários de guerrilhas armadas, hoje, qualquer pessoa sensata entende que a via armada simplesmente não é uma possibilidade, por isso proponho uma guerrilha pedagógica.

Na universidade pública (jamais ocorreria na privada) tive a chocante constatação de que simplesmente não nos ensinam história na escola, mas uma versão conveniente e obediente ao capitalismo da mesma. Sendo a história o alicerce da concepção de cidadania, concluo afirmando que não é educação o que acontece nas escolas, mas um condicionamento contrarrevolucionário doutrinário onde nos ensinam a aceitar e nos adequar ao status quo.

Um neofoco seria um compensador educacional para dentro e para fora:
Para dentro da rede, ensinaríamos a História, não sua versão. Ensinaríamos sobre a guerra do Paraguai, sobre a segunda guerra, efetivamente sobre a transição ao capitalismo, a verdadeira história do Brasil, o nióbio, etc. Daremos todas as ferramentas teóricas e críticas para o questionamento disto que chamam de democracia, além de geografia, química, física, matemática e biologia em aulas práticas e interativas.
Para fora da rede, ensinaríamos, através do exemplo, que é possível escapar das relações de dominação; do envenenamento compulsório por transgênicos e agrotóxicos e da lógica imposta de competição ao invés da colaboração.

Os neofocos, logo, devem resistir à tentação de se resumirem a unidades produtivas, há de saber manejar o tempo e a energia para que sejam suficientes para as práticas pedagógicas visando a verdadeira e inédita educação de jovens e adultos.

ESTRUTURA

Na inauguração do primeiro neofoco, serão selecionadas três famílias para estágio probatório de vivência de 5 anos; findos os 5 anos e angariados os recursos para o próximo neofoco, as três famílias o habitarão abrindo as vagas para as 3 próximas famílias.
Tendo sucesso, a ideia é manter encontros e confraternizações constantes para promover a troca de experiências e a solidariedade mútua para fortalecimento do projeto.
O excedente dos dois neofocos será destinado à implantação de um terceiro; o excedente dos 3 neofocos será destinado à implantação do quarto, e assim por diante. A partir do segundo, cria-se um conselho deliberativo composto pelos coordenadores de cada neofoco que decidirá de forma conjunta sobre tudo o que diz respeito aos recursos coletivos e a implantação do próximo neofoco.

Malpais

Além de estar cônscio da dominação e opressão capitalista, observo no pós-modernismo uma tática inteligente e perversa de prevenção a reformas estruturais e unidade popular, assim, vendo especialmente a juventude ocupada de sua própria divisão e afastamento da consciência da luta de classes, não considero que me juntar a algum coletivo existente implique em contribuição pela emancipação da humanidade. Inúmeras são as formas pelas quais nos infectam de ego e minam o potencial verdadeiramente coletivo que transcende organizações. Os coletivos, por serem políticos, têm o mesmo motor do capitalismo - a competição e o mesmo combustível - o ego individual, logo, não lograrão a vitória pela simples falta do componente moral.

Tudo há de começar no sítio Malpais (ou neofoco1), nome emprestado do romance de Huxley, "Admirável mundo novo".

O sítio visa não só a autossuficiência, mas também a geração do máximo excedente, afim de poder colaborar com o próximo neofoco seja em sua instalação ou manutenção, o que será melhor explicado no próximo texto.

ESTRUTURA:


A ideia inicial é de que trabalhem 3 famílias onde cada membro-trabalhador (inclusive eu e minha família) tem piso-teto de R$1500,00 em valores de hoje.

Pretendo que o sítio tenha pelo menos 7 hectares cultiváveis onde 3 para campos rotativos, 1 para horta, 1 para pomar,1 para oleaginosas e 1 para dividir entre construções e agrofloresta. É importante também que haja bom volume d'agua para abastecimento e geração de energia.

Abaixo explico de forma esquemática a operação do sítio quando estiver com todas as capacidades instaladas, e seu potencial médio produtivo, me falta ainda pensar no processo de instalação:

Edificações


3 residências com estruturas de concreto e alvenaria de brickeradobe, banheiros secos e cisternas coletoras de água da chuva
1 galpão pré fabricado para maquinário
1 capril suspenso com sala de ordenha
1 barracão de assoalho suspenso para galinhas poedeiras livres em ninhos-caixa
3 tanques de ferrocimento para tilápias

Maquinário:


1 microtrator tobata com roçadeira, carreta, picador e enxada rotativa
1 moinho de pedra a ser movido pela correia da tobata
1 micro usina de biodiesel
1 micro central hidrelétrica
1 beneficiador de sementes
1 prensa extrusora para óleo
1 ordenhadeira móvel


1: Energia:

Hídrica: se der a sorte de conseguir uma propriedade com bom volume fluvial e relevo adequado, posso optar por micro usina hidrelétrica que pode, dependendo da vazão, abastecer toda a propriedade.

Motor: geradores abastecidos pelo biodiesel produzido na própria propriedade que por sua vez alimenta o maquinário produtivo


2: Cultivares


Penso no velho sistema de 3 campos rotativos para os grãos, assim, um campo repousa um ano enquanto outros dois produzem durante a safra e entressafra.

Farináceos:

O milho é importante para a ração animal desde a silagem para os caprinos até a aimentação das aves de postura.
A produtividade média de grãos é de 8ton/ha a ser comercializado beneficiado em forma de fubá moído na pedra.

O trigo tem baixa produtividade não sendo viável em pequenas propriedades mas, para o consumo local é componente necessário para muitas massas. A fim de melhorar a oferta nutricional e viabilizar a comercialização de pequenas quantidades, a variedade khorasan, também chamada de Kamut pode ser interessante se se adaptar ao solo. Produtividade média de 1.1 ton/ha

A quinoa despensa que se fale em seu potencial nutricional, mas é pertinente que ressalte sua versatilidade. Ainda não sei sobre as raízes, mas todo o resto é comestível, proteico, nutritivo e com ótimo potencial forrageiro e, provavelmente, para silagem. Serve para farinha, óleo, come-se como arroz, como brócolis, enfim, provavelmente o grão mais importante da propriedade se se adaptar ao solo. Produtividade média de 3,5 ton/ha

O trigo mourisco é rústico tem linda e enorme floração que favorece o apiário e pode substituir o trigo comum, carece mais pesquisa. 3ton/ha

Penso também no amaranto e na chia, pelo seu apelo comercial, baixa disponibilidade e viabilidade de comercialização em pequena escala

O campo em descanso será recuperado com feijão de asa, come-se os grãos verdes como ervilhas, secos como feijões, come-se as folhas e, ao final do ciclo anual, come-se o tubérculo gerado na raíz.

3: Horta
Não convém listar as variedades cultivadas, mas vale uma ressalva ao mangarito, legume tradicional esquecido e agora relembrado pela alta gastronomia cujo valor do kilo pode atingir os R$ 10,00 p.m. 8 ton/ha

4: Pomar
Opto por variedades com bom valor de mercado e baixa oferta, como o tangor.

5: Oleaginosas
Quanto mais pesquiso sobre o pinhão manso, mais fascinado fico. A planta dura 40 anos, um hectare fornece a média de 200 litros de óleo bruto mensalmente e, recentemente a Embrapa identificou uma variedade atóxica cuja torta de prensagem pode ser usada na alimentação animal.

6: Animais


Cabras leiteiras:
Raça rústica, uma das molas comerciais do neofoco, a cabra consome boa parte da massa verde e dos grãos em forma de silagem,além de ração produzida na propriedade, seu esterco será maturado para adubação em minhocários, parte do leite é beneficiada em queijos a serem comercializados e outra parte é vendida direto. Carece de estudos de produtividade.

Tilápias:


Criadas em 3 tanques de ferrocimento preferencialmente acima do nível das hortas, são alimentadas com ração produzida na propriedade; a água da troca irriga a horta fornecendo nutrientes; cada tanque produz anualmente 500 kg de peixes, pode-se vender a R$4,00/kg.

Galinhas poedeiras


Abastecimento local e comercialização de ovos; criadas em barracões suspensos para a obtenção de esterco.

Abelhas:

Estimo que venha a ter dezenas de caixas de abelhas jataí, pela ausência de ferrão que facilita o manejo, pelo potencial polinizador, e, claro, para a produção de mel e própolis que, embora tenha baixa produtividade, tem altíssimo valor de mercado.

Renda

Como a produção e seu escoamento são altamente variáveis, não há como fazer um cálculo preciso. O ideal é que a renda mensal bruta seja de pelo menos R$ 15000,00 para custear os salários, a reserva de contenciosos e o plano de investimento de 5 anos para o financiamento do próximo neofoco. Ao final do plano, teria um montante de cerca de R$ 250.000,00 para a aquisição e preparo da área e construção de instalações, forneceria sementes, matrizes e insumos no primeiro ano. Uma vez estabilizado o próximo neofoco, ambos, através de seus coordenadores, financiariam o terceiro e assim por diante numa reação em cadeia, dando à luz uma revolução pacífica, silenciosa e consciente.

Começando

Uma maratona de 1000 km não começa no primeiro passo, mas na fé para dá-lo.

O propósito deste blog é de organizar elementos que me são apresentados por um chamado íntimo, provavelmente do inconsciente, à emancipação.

Quando jovem, sem tanto acesso à informação, era fortemente tentado ao eremitério ou ao nomadismo da vida de andarilho, mas minha inteligência e engenho me proibiam, insistindo em que haviam formas mais saudáveis de me libertar da escravidão social.

Com o tempo, conheci a permacultura, me afoguei em pesquisas teóricas por anos, proibido de conhecer a prática pelas expectativas próprias e de terceiros, conjunto este que é nosso primeiro e eterno patrão e carcereiro.

Pois bem, vamos à ideia inicial: num primeiro momento, pensava individualmente, um sítio para mim e minha família e que a barbárie continuasse lá fora para aqueles que a defendem e a sustentam. Hoje vejo um potencial maior, tanto em termos do funcionamento da permacultura como pela sua condição como maior e possivelmente única via de uma revolução anticapitalista.

Pensando agora, vou dividir o blog da seguinte maneira: esta pequena introdução; a explanação do sítio Malpais; o neofoquismo e a rede; compêndio de soluções técnicas.

Vamos lá!