segunda-feira, 27 de março de 2017

O tempo.

O tempo é a carne, é a comida
É a vida presente vendida
Pelo amanhã ausente, adiado
Mal medido,
Perdido na fé do vazio estimado
Em tudo que foi prometido
No nada que foi achado.

O tempo é sangue que jorra quente
Do suor que corre frio
Que a máquina de comer gente
Tá sempre de bucho vazio.

O tempo é ar que não entra, só sai
É a gente que aguenta e não cai
É frio, é calor, não sente, só vai!

O tempo é sons, tiques, tambores
Bozinas, apitos aflitos, esquinas,
Senhores chiques, moleques bons e vento.

O tempo é luz, é a aurora, el ocaso, o atraso no parto diário, olha a hora!
Cafés da manhã puros e crus.

O tempo é o beijo negado antes de cogitado
O abraço posto de lado pelo passo ao chicote apertado
O fenômeno ignorado
O fogo abafado com a folha de papel tracejado

O tempo é a cera que o fogo consome
Da vela que é o homem
É a areia que a terra puxa pra baixo
É a teia que me tece suspenso
É o chão onde me esborracho

Nenhum comentário:

Postar um comentário